quinta-feira, 8 de julho de 2010

Bruno: da infância pobre ao conto de fadas que virou tragédia


Dois dias antes do natal de 1984, um menino nasceu numa família pobre na periferia de Belo Horizonte. Um dia depois deste mesmo natal, a mãe do menino, Sandra Cássia de Oliveira Santos, e o pai dele, o caminhoneiro Maurílio Fernandes das Dores de Souza, pediram para que a avó paterna, Estela Santana Trigueiro de Souza, tomasse conta do recém-nascido. Com três dias de idade, o menino Bruno Fernandes das Dores Souza começava a viver um conto de fadas típico do Brasil: o do menino pobre que vence na vida através do talento para jogar futebol. Em 2010, 26 anos depois, o conto de fadas virou tragédia.
Maurilio e Sandra Cássia continuaram casados por quatro anos. Em 1986, dois anos depois do nascimento do futuro goleiro, o casal se mudou para Teresina, no Piauí. Segundo depoimento de Sandra, em entrevista a uma emissora de TV em 2006, Dona Estela não deixou que Bruno fosse com o casal. Eles levaram, porém, o outro filho, Rodrigo, então com um ano e oito meses. Quando os pais se separaram em 1988, Sandra foi morar com a mãe em Alcobaça, no sul da Bahia. Maurílio, nômade, encontrou uma família piauiense para criar Rodrigo.
Na final da Copa da Alemanha, há exatos quatro anos, o francês Zinedine Zidane deu sua famosa cabeçada no italiano Materazzi por causa de uma provocação boba. Ainda no estádio, seu companheiro de time, o atacante Thierry Henry, disse uma frase sábia - e triste:
- Você pode tirar o menino de dentro do bairro pobre. Mas você nunca tira o bairro pobre de dentro do menino.
Talvez seja possível dizer algo parecido sobre Bruno. No início de maio de 2007, um repórter se aproximou do goleiro. Era véspera do dia das mães - e o pedido era simples: "mande um recado para sua mãe". A reação de Bruno foi súbita - e violenta. O goleiro fechou o rosto, despejou uma série de palavrões e bateu a porta do vestiário do CT Ninho do Urubu, em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Bruno foi criado pela avó Estela em Minaslândia, bairro pobre de Ribeirão das Neves, cidade de 340 mil habitantes na periferia de Belo Horizonte. Foi ali que Estela e o avô Roberto se fixaram quando o menino Bruno tinha sete anos. O pai, Maurílio, só veio a conhecê-lo de perto quando o goleiro completou 18 anos e já jogava futebol. Em 2002, pouco antes de morrer, Maurílio reencontrou também Rodrigo, o irmão que vive no Piauí, e disse:
- Seu irmão virou jogador de futebol. Está no Atlético-MG.
Maurílio, porém, não viu o sucesso de Bruno. Pouco depois de reencontrar os filhos que deixou para trás, ele faleceu em São Paulo em 2002. E deixou para trás suspeitas de envolvimento criminal. A mãe, Sandra, voltou à vida de Bruno em 2006. O goleiro foi procurado e aceitou conhecê-la em um programa de televisão. Ficou emocionado. Mas não a ponto de mudar sua vida:
- Minha mãe é a dona Estela (78 anos). É minha velhinha e a quem eu devo tudo. Estou com ela sempre – disse, em 2008, com os olhos cheios de lágrimas.
- Sou a mãe-avó do Bruno. Pra mim ele não tem defeitos - disse recentemente dona Estela em entrevista ao jornal O DIA.
Em 2006, Bruno chegou a se reaproximar da família da mãe e trouxe a avó materna, Lucely Souza de Oliveira Santos (de 65 anos), para passar um mês em sua casa. A mãe, Sandra, foi internada por alcoolismo numa clínica e o goleiro tentou ajudar. Mas, segundo a avó, não conseguiu:
- A Dayanne, mulher dele, não gostou da gente. O Macarrão e os outros ficam em cima dele. Ele tem a cabeça fraca e cai na conversas dos outros - disse Lucely também ao DIA.
A falta de pai e mãe fez Bruno criar uma família particular. Seus amigos mais próximos sempre foram três: Luciano, o Lulu; Luiz Henrique Romão, o Macarrão; e o primo Sérgio Rosa Sales. Os dois últimos são suspeitos de envolvimento na morte de Eliza.

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